História

1887

Fundação

Vários fatos contribuíram para a evolução do processo que culminou com a fundação do Clube Militar. Sem pretender esgotar o assunto, apresentaremos alguns deles, por julgá-los determinantes daquele processo. A criação do Clube Militar foi precedida de várias tentativas similares, que resultaram na criação de grêmios, institutos, clubes e associações na capital e em várias províncias, todos de duração efêmera.

Aos poucos, conforme se agravavam as crises do final do Império, com as conhecidas “questões” religiosa, diplomática e militar, amadurecia a ideia de que os militares precisavam fazer-se ouvir de maneira coletiva e organizada. Os oficiais do Exército e da Armada, altamente politizados, como de resto toda a população educada do país, procuraram envolver os líderes das forças, aqueles que gozavam da admiração e do respeito da grande maioria da classe, na fundação do Clube. Neste mister, destacou-se o Tenente Thomaz Cavalcante de Albuquerque, idealista e republicano, que viria a ser o sócio número um do Clube Militar.

Gen Thomaz Cavalcante 1

Gen Thomaz Cavalcante de Albuquerque

As primeiras reuniões eram em locais diversos: em teatros, na Biblioteca do Exército, nas residências como a de Serzedelo Correia, na Rua da Passagem, em Botafogo, onde se realizou a reunião preparatória da fundação oficial do Clube, em 2 de junho de 1897, na qual foram alinhavadas as principais ideias que regeriam a instituição.

Serzedelo Correia

Inocêncio Serzedelo Correia

Após essa reunião, numerosa comitiva de oficiais foi ao encontro daquele que era o mais impressionante e respeitado dos chefes militares, herói dos campos de batalha: o Marechal Deodoro da Fonseca. Junto com Sena Madureira e Benjamin Constant, o Marechal recebeu o grupo e tomou conhecimento do que ocorrera. Acertou-se o pedido da sede do Clube Naval para uma assembleia, o que foi concedido pelo Presidente daquele Clube, Custódio José de Mello. Assim, no Largo do Rocio, hoje Praça Tiradentes, foi realizada uma reunião, em 26 de junho de 1887, sob a presidência do Marechal José Antônio Correia Câmara, Visconde de Pelotas e Ministro da Guerra, secretariada pelo Capitão de Mar e Guerra Custódio de Mello e pelo Tenente Coronel Carlos Frederico da Rocha, na qual o Visconde proferiu palavras elogiosas ao seu velho camarada Deodoro e encerrou conclamando os presentes a, de pé, aclamarem o Marechal Deodoro presidente de tão ilustre assembleia.

Jose Antonio Correa

Marechal José Antônio Corrêa da Câmara Visconde de Pelotas

Nessa reunião histórica foi fundado o Clube Militar, aclamado seu Presidente o Marechal Deodoro da Fonseca e constituída a primeira Diretoria, com os seguintes nomes e funções: Vice-Presidente – Custódio José de Mello; 1º Secretário – José Simão de Oliveira; 2º Secretário – Marciano Augusto Botelho de Magalhães; Tesoureiro – Benjamin Constant Botelho de Magalhães; Comissão de Imprensa: José Marques Guimarães, Eduardo Wandenkolk e Antônio de Sena Madureira.

Manoel Deodoro Da Fonseca

Marechal Manoel Deodoro da Fonseca

Ainda na reunião, Deodoro mandou Sena Madureira ler o anteprojeto do Estatuto, com dezenove artigos, que, posto em votação, foi aprovado por aclamação. O rascunho, assinado por Deodoro, Benjamin e Sena Madureira, foi passado a limpo por D. Constanza A. Mariz e Barros, esposa de Sena Madureira, fato que marca a presença feminina no Clube Militar desde a assembleia de sua fundação. O Estatuto definitivo, com 32 artigos, foi aprovado na assembleia seguinte, em 4 de julho, e entrou em vigor assinado pelos membros da Diretoria aclamada na reunião anterior.

Antonio De Sena Madureira

Ten Cel Antonio de Sena Madureira

Na assembleia inaugural do Clube Militar debateram-se, ainda, aspectos da conjuntura nacional, a saber: 

  • Proposta de lançamento de uma “chapa militar”, com candidatos escolhidos pelo Clube, para disputar o Senado pelo Rio de Janeiro nas próximas eleições, sendo o nome de Deodoro aclamado com entusiasmo;
  • Ideias a respeito da abolição da escravatura;
  • Franquia das Províncias e dos Municípios;
  • Casamento civil separado do casamento religioso;
  • Separação do Estado da Igreja;
  • Secularização dos cemitérios públicos; e
  • Forma de governo republicana.
Benjamin Constant Botelho

Ten Cel Benjamin Constant Botelho de Magalhães

1888

Abolição

A fundação do Clube Militar, em 26 de junho de 1887, está intimamente ligada ao problema nacional da abolição da escravatura.

A própria Questão Militar, um dos marcos na queda do Império, envolveu a punição imposta ao Ten Cel Sena Madureira, então Comandante da Escola de Tiro de Campo Grande, por ter o mesmo homenageado um jangadeiro cearense, Francisco Nascimento, que liderou um movimento dos jangadeiros que se recusaram a transportar escravos do Ceará para outras províncias.

Ainda no ano de sua fundação, em 26 de outubro, o Presidente do Clube Militar endereçou à Princesa Regente uma petição solicitando que o Exército não fosse usado como “capitão do mato” na captura de escravos foragidos: 

“Senhora, 

Os oficiais, membros do Clube Militar, pedem a Vossa Alteza Imperial vênia para dirigir ao Governo Imperial um pedido, que é antes uma súplica… 

… a liberdade é o maior bem que possuímos sobre a terra; uma vez violado o direito que tem a personalidade de agir, o homem para reconquistá-la é capaz de tudo; de um momento para outro ele, que antes era um covarde, torna-se um herói… 

… em todos os tempos os meios violentos de perseguição não produziram nunca o desejado efeito. 

É impossível, Senhora, esmagar a alma humana que quer ser livre. 

Por isso, os membros do Clube Militar, em nome dos mais santos princípios de humanidade… esperam que o Governo Imperial não consinta que os oficiais e as praças do Exército sejam desviados de sua nobre missão. Se se tratasse de uma sublevação de escravos que ameaçasse a tranquilidade das famílias, que trouxessem a desordem, acreditai que o Exército havia de manter a ordem. Mas diante de homens que fogem, calmos, sem ruído, evitando tanto a escravidão como a luta e dando ao atravessar cidades exemplos de moralidade, cujo esquecimento tem feito muitas vezes a desonra do Exército mais civilizado, o Exército brasileiro espera que o Governo Imperial lhe concederá o que respeitosamente pede em nome da honra da própria bandeira que defende…”

O Governo Imperial cedeu. No entanto, apesar de manifestações abolicionistas em praça pública, e do projeto de “extinção completa do braço escravo” do Senador Souza Dantas, o ano de 1887 acabou sem uma solução para tão nobre causa. 

A Princesa Isabel, ainda no exercício da Regência, assinaria a Lei Áurea em 13 de maio de 1888, libertando os escravos em todo o território nacional e, como consequência, perdendo o apoio do último esteio que sustentava o Império, os proprietários rurais.

1889

República

Vinha de longe a ideia da República. As primeiras tentativas de independência do Brasil, bem como os raros movimentos separatistas, previam a adoção da forma de governo republicana. Há muito tempo a República vinha sendo a aspiração de pequeno – mas cada vez mais influente política e socialmente – grupo de idealistas.

Entre as consequências da longa e cruenta Guerra da Tríplice Aliança, sem dúvida encontramos a expansão das ideias republicanas, surgidas do largo contato das Forças Armadas brasileiras com as da Argentina e do Uruguai. 

Em 1870 surgiu o “Manifesto Republicano”, que deu origem ao Partido Republicano, a um clube e a um jornal, ampliando as ideias contrárias ao regime vigente. Dizia o manifesto: “Somos da América e queremos ser americanos”, denunciando como uma das fontes inspiradoras a grande república norte-americana. 

A inspiração não vinha somente do norte, mas também da Europa, onde se discutia o direito da hereditariedade, a inviolabilidade da pessoa real e a sua irresponsabilidade. Tais debates não eram contra o estimado Imperador do Brasil, mas eram melindrosos e punham em evidente perigo o prestígio do trono. 

Enfraquecendo ainda mais o prestígio da realeza, surgiu o episódio que ficou conhecido como “questão militar”: por proposta do Marquês de Paranaguá, em 1883, discutia-se no Congresso uma lei de reforma do Montepio Militar, que foi considerada prejudicial aos interesses da classe. Alguns oficiais discutiram a proposta pela imprensa, bem como outros fatos da administração do Exército, em resposta a discursos parlamentares. Estes os acusavam de serem infratores dos Regulamentos e os oficiais respondiam que haviam sito atacados em sua “honra militar”, dizendo-a atingida por “insultos” e “insolências” dos políticos. Os ministros da guerra do período, na iminência de indisciplina, baixaram portarias censurando os oficiais polemistas. Esses, por sua vez, recebiam a adesão cada vez mais vibrante dos companheiros de farda. 

No Ceará, os escravos são libertos em 1884. Chefiados por Francisco Nascimento, os jangadeiros recusaram transportar escravos para outras províncias. O Ten Cel Antonio de Sena Madureira, então Comandante da Escola de Tiro de Campo Grande, convidou-o para vir ao Rio de Janeiro para receber homenagens na Escola. Por tal motivo, Sena Madureira foi punido pelo Ministro da Guerra. Seguiram-se outros casos, como o de Ernesto Augusto da Cunha Mattos, que respondera asperamente pela imprensa às censuras que lhe dirigira da tribuna parlamentar o deputado Simplicio de Rezende, tendo sido defendido no Senado por José Antonio Corrêa Câmara, Visconde de Pelotas, de cujo discurso numa das sessões, lê-se: “Os oficiais do Exército deviam ver, no que acaba de sofrer seu camarada, uma ofensa a todos eles feita. O oficial que é ferido em sua honra militar tem o direito imprescindível de desagravar-se”. 

Inúmeros outros casos levaram o Exército, que era o elemento com que os políticos conseguiam impor o seu sistema ao país e dominar focos de rebelião, a dar sinais de impaciência. Oliveira Vianna, no livro “O Ocaso do Império” cita: “Essas questões militares de 86-87 têm uma grande importância – porque delas é que partiu toda a dinâmica do movimento que haveria de dar, dois anos mais tarde, com o trono em terra”. E mais adiante: “Era realmente um claro ‘estado de beligerância’ que se havia constituído entre o Poder Civil e o Poder Militar”.

O desinteresse da monarquia pela eficiência das instituições e organizações militares do país estava levando o mecanismo da defesa nacional a uma estatura mínima. Não eram apenas razões econômicas que influíam nesse desinteresse, permitido pela aparente tranquilidade internacional em que vivíamos, eram as costumeiras incompreensões de nossos políticos, o insuficiente sentimento de responsabilidade, o desconhecimento dos assuntos relativos às Forças Armadas, que impedia que fossem tomadas medidas possíveis. 

Foi nesse ambiente perturbado que foi fundado o Clube Militar, como já foi visto. 

Por sua vez o Imperador, enfermo e envelhecido, não exercia sobre o país aquela ação moderadora, inteligente e necessária. Talvez – especulavam alguns – no fundo de sua alma, não desejasse para seu amado Brasil um terceiro reinado com “um príncipe estrangeiro” que nem mesmo falava o idioma local. Também não contava mais com o apoio de grandes generais, respeitadíssimos pela tropa e que lhe foram fiéis por toda a vida, como Caxias e Osório, que já haviam falecido. 

No dia 7 de junho de 1889, a nomeação do gabinete chefiado por Afonso Celso de Assis Figueiredo, Visconde de Ouro Preto, só fez piorar a situação. Monarquista, entrou em choque com Deodoro, nomeando para o alto cargo de Presidente da Província de Mato Grosso o Cel Ernesto da Cunha Mattos, o mesmo defendido por Deodoro na Questão Militar, e dissolveu as Forças em Operações. O Marechal, que desde 27 de dezembro de 1888 era o Comandante das Forças em Operações do Mato Grosso, ficaria subordinado a um Coronel. No mesmo dia 30 de julho de 1889, tomando conhecimento da chegada de Cunha Mattos, Deodoro liberou as forças expedicionárias, passou o comando da flotilha ao Capitão de Mar e Guerra José Nolasco da Fontoura Pereira da Cunha e iniciou seu regresso para o Rio de Janeiro. 

O Visconde de Ouro Preto tentou fortalecer a Guarda Nacional para que ela eventualmente pudesse se contrapor ao Exército. Aumentou o efetivo da Guarda Negra, composta por “capoeiras” ex-escravos que se opunham aos republicanos, a serviço da segurança da Princesa Isabel, a quem cultuavam, que já contava com 1.500 homens e representava outro motivo de irritação dos militares. 

A situação se tornou insustentável e transformou a insatisfação do Exército em uma franca rebelião contra o Governo de Ouro Preto. Os republicanos se declaravam abertamente contra a política vigente, principalmente Quintino Bocaiúva, que era o diretor do jornal “O Paiz”.

Quintino Bocaiuva 1

Quintino Bocaiúva

No mesmo dia da nomeação do gabinete de Ouro Preto, em plena Câmara, o Padre João Manoel proferiu um discurso incisivo. Disse ele: “não nos iludamos: a república está feita, só lhe falta à consagração nacional, ela existe de fato em todos os espíritos e em todos os corações brasileiros e não se iluda o nobre presidente do Conselho. Abolida a escravidão que nos envergonhava, é preciso abolir o poder que nos oprime e esmaga, esterilizando as forças vivas da nação; uma causa é consequência natural da outra”. E conclui: “Abaixo a monarquia e viva a República”. O tumulto foi geral na Câmara.

No dia 5 de novembro, no Clube Militar, houve uma reunião da diretoria sob a presidência de Benjamin Constant – pois Deodoro, doente, se afastara desde 21 de outubro – na qual se tratou de dois assuntos: “novos sócios” e “interesse geral”. Na segunda parte decidiu-se convocar uma assembleia geral para o sábado, dia 9 de novembro. Nos dias seguintes, 6, 7 e 8 de novembro, sucedem-se reuniões preparatórias na residência de Benjamin Constant, com a presença de inúmeros republicanos e associados do Clube Militar, entre os quais o Major Marciano de Magalhães, Capitão Mena Barreto, Tenentes Saturnino Cardoso, Sebastião Bandeira, Alferes Joaquim Inácio, Aluno da Escola de Guerra Aníbal Eloi Cardoso, Major Sólon e Quintino Bocaiúva.

Decidem solicitar que Deodoro organize um “governo provisório”, o que ocorre a 11 de novembro, quando, em reunião em sua residência foram levantados os nomes de Aristides da Silveira Lobo, Benjamin Constant, Eduardo Wandenkolk e Quintino Bocaiúva e combinaram que, na assembleia geral de 9 de novembro, o Tenente Coronel Alfredo Ernesto Jacques de Ourique apresentaria uma proposta para formar uma comissão de três associados do Clube Militar que deveria se dirigir ao Presidente do Conselho, Visconde de Ouro Preto, para “solicitar fosse sustada a pressão sobre as tropas da guarnição do Rio de Janeiro”.

Na noite de sábado, dia 9 de novembro, aconteceu a assembleia geral no Clube Militar, que era na Rua da Carioca, com a presença de 116 associados republicanos. O presidente Benjamin Constant, em inflamado discurso, propôs que, em vez de comissão de três membros, fosse dado a ele o poder de “alcançar um resultado digno em oito dias”. Os acontecimentos se precipitaram e em seis dias houve uma solução radical que pôs fim a sessenta e sete anos de governo imperial. Na mesma noite de 9 de novembro, sem que soubessem do que ocorria no Clube Militar, a Família Imperial, os Ministros, os Senadores, os Deputados, os altos funcionários da Coroa e do Estado, os militares de elevados postos, participavam na Ilha Fiscal de um baile magnífico que ficou conhecido como o “último baile do Império”.

Veiga Cabral comenta que “nesse mesmo dia publicara Rui Barbosa, sob o título ‘Plano contra a Pátria’, excelente artigo que levou Benjamin Constant a procurá-lo no próprio escritório, a fim de obter a adesão desse notável baiano, o que foi conseguido”. No dia 11, Rui Barbosa compareceu a uma reunião em casa de Deodoro, no Campo de Santana.

Segundo Hélio Silva em “Nasce a República 1888-1889” – “a República tinha de acontecer”. “Éramos o único Império nas Américas. Esta, a primeira razão para que se proclamasse a República em 15 de novembro de 1889. Porque a Monarquia era um artificialismo em nosso continente, voltada para a Europa e de costas para a América, sem olhar o Brasil, em sua realidade”.

O Professor Vicente Tapajós, em artigo intitulado “O Exército e a República”, na Revista do Clube Militar de Nov/Dez 1974, conta-nos que seu bisavô, o Barão de Miranda Reis, militar de carreira, marechal de campo, presidente das províncias do Amazonas e de Mato Grosso, um grande nome do Império, de brilhante atuação na Guerra do Paraguai, assistiu à Proclamação da República. Estava no Paço e acompanhou, minuto a minuto, a agonia do Império, junto do Imperador e seus filhos, e mais Nogueira da Gama, José Calmon, Mota Maia, Penha e as filhas, Calógeras, Tamandaré, Ivinheima, Loreto, Muritiba, Aljezur, D. Josefina da Fonseca Costa e Carapebus, além de algumas senhoras.

O Barão de Miranda Reis, soldado acima de tudo, reconheceu que Deodoro agia para defender a honra sua e de sua classe, tanto que não se negou a continuar no seu posto, servindo sob Deodoro, chefe do governo provisório e teve a grata emoção de receber a primeira bandeira republicana presenteada à Escola Superior de Guerra (como se chamava a atual Academia Militar). Bordaram-na a esposa e as filhas de Benjamin Constant. Tal é uma prova de que a República nascia sem ódios. Mudava-se o regime, mas reconhecia-se o valor dos homens.

Com orgulho, o Clube Militar ostenta em seu distintivo as palavras: A Casa da República. Trata-se de justo reconhecimento aos primeiros de seus membros, que defenderam e propagaram os ideais republicanos. 

Sua importância pode ser verificada na constituição do Governo Provisório, que assumiu o poder com a Proclamação da República e organizou a primeira eleição republicana: 

Marechal Manoel Deodoro da Fonseca, chefe do Governo Provisório; 

Tenente Coronel Benjamin Constant Botelho de Magalhães, Ministro da Guerra; 

Chefe de Esquadra Eduardo Wandenkolk, Ministro da Marinha.

1897
1901

1º Fechamento

Os primeiros tempos da República foram tumultuados. Resumindo os fatos importantes que sacudiram o país na primeira década republicana, listamos o Governo Provisório, que tinha de impor sua vontade às províncias, para manter a ordem; o primeiro Congresso Constituinte; a morte de Benjamin Constant; a eleição de Deodoro para Presidente da República; o problema da elegibilidade de militares para cargos políticos; a questão das Missões; a renúncia de Deodoro e a ascensão de Floriano à Presidência; a Revolta da Armada; a morte de Deodoro; a Revolução Federalista no Rio Grande do Sul; indisciplina e revoltas na Escola Militar da Praia Vermelha; desligamentos, transferências e desterro como punição; o episódio de Canudos; o atentado ao Presidente Prudente de Morais, no qual morreu o Ministro da Guerra, Marechal Carlos Machado Bittencourt.

Escreveu o Cel Trajano de Viveiros Raposo, em “Histórico do Club Militar”:

“A 12 do mesmo mês (1897), declara-se o estado de sítio a fim de agir contra os florianistas. Os escravocratas e outros inimigos do Clube o intrigam com as altas autoridades da República que, crentes nos enredos, mandam-no fechar, por instinto de conservação, a 6 de dezembro seguinte, e fazem recolher seu arquivo à polícia, como se tratasse de reles espelunca.”

O estado de sítio cessa a 23 de fevereiro de 1898, mas o governo mantém a ordem de fechamento do Clube. Este, sob a presidência do General Francisco Antônio de Moura – eleito em sessão privada após o fechamento do Clube – resolve recorrer à justiça. Por essa razão, o General Moura foi punido com prisão disciplinar.

Em sessão extraoficial, pois o Clube permanecia fechado, foi eleito Presidente o General Arthur Oscar de Andrade Guimarães, que somente tomaria posse em agosto de 1901, após a reabertura de nossa associação.

Durante o período do fechamento, o número de sócios reduziu-se a 69; o patrimônio ficou intacto, bem como a biblioteca que fora doada pelos últimos alunos da Escola Superior de Guerra. Todo o patrimônio ficou guardado na sede da “Comissão Glorificadora do Marechal Floriano Peixoto”, à Rua do Ouvidor nº 127, 2º andar.

Somente no governo de Manuel Ferraz de Campos Sales o Clube Militar foi aberto, em 14 de julho de 1901.

1903

Terreno da Sede

Reaberto o Clube Militar, no ano de 1901 foi aprovado seu 2º Estatuto e empossada nova diretoria, sob a presidência do General Arthur Oscar de Andrade Guimarães. Na assembleia de posse estavam presentes 214 sócios.

Em 1903 começaram os projetos para a construção de uma sede própria para o Clube, que até então se reunia em instalações cedidas por outras instituições. Foi, também, aprovado projeto de empréstimo no valor de 200 contos de réis para construção do prédio.

Em fevereiro de 1904 decidiu-se efetuar gestões junto ao General Lauro Muller, Ministro da Indústria e Viação, para obter – por doação – um dos terrenos que resultariam das demolições projetadas na futura Avenida Central, o que foi conseguido.

Estando adiantadas as obras da Avenida Central, com os terrenos livres de suas antigas edificações, o Clube Militar marcou a data de 9 de novembro de 1904 para o lançamento da pedra fundamental de sua primeira sede própria, projeto do engenheiro militar Dr. Souza Aguiar. Em solenidade concorrida, o ato contou com a presença de altas autoridades do governo e associados.

1904

Revolta da Vacina

No final de 1904, o Rio de Janeiro foi abalado pela questão da vacina obrigatória contra a varíola, o que, inclusive, envolveu o Clube Militar. Em 14 de novembro, sócios reuniram-se na sede e, sem o conhecimento ou aprovação do Presidente – General Leite de Castro – resolveram derrubar o governo, apoiados pela revolta popular causada pelas grandes demolições e pela obrigação da vacina, imposta por lei. Da reunião participou ativamente o Ten Cel Lauro Sodré, membro da Diretoria do Clube.

Saindo da reunião no Clube, o Maj Gomes de Castro dirigiu-se à Escola Militar de Realengo, onde acabou preso por seu comandante, Marechal Hermes da Fonseca. Por sua vez, o Gen Silvestre Rodrigues Travassos e o Ten Cel Lauro Sodré dirigiram-se à Escola Militar da Praia Vermelha, onde sublevaram grande parte dos alunos.

Saindo às ruas de Botafogo, travaram combate rápido e violento com as tropas legalistas, comandadas pelo Gen Carlos Piragibe, às dez horas da noite, na Rua da Passagem. Os alunos debandaram e retornaram à Escola Militar, onde foram presos e, mais tarde, desligados. Em consequência dos ferimentos recebidos, o Gen Travassos morreria dias depois. Lauro Sodré, também ferido, recolheu-se à casa de um amigo, mas acabou preso e recolhido a um navio de guerra onde, por mais de dez meses, permaneceu detido.

Lauro Nina Sodre

Ten Cel Lauro Nina Sodré e Silva

Serenados os ânimos, em 1905, o Clube iniciou negociações para levantar empréstimo de 500 contos de réis a serem empregados na construção da nova sede e seu mobiliário.

Em 5 de setembro, com a anistia aos envolvidos na Revolta da Vacina, o Vice-Presidente do Clube, Ten Cel Lauro Nina Sodré e Castro, reassumiu seu cargo na diretoria.

Em 15 de novembro era festivamente inaugurada a Avenida Central.

Durante o ano de 1907, intensos debates concluíram com a aprovação dos Estatutos da Caixa Beneficente e eleição de sua diretoria.

No início de 1908 foi sancionada pelo Presidente da República a Lei do Serviço Militar Obrigatório, culminando intensa atividade do Clube em apoio à aprovação da mesma, proposta e defendida pelo poeta Olavo Bilac e pelo Ministro da Guerra, Marechal Hermes Rodrigues da Fonseca.

1908

Revolta da Armada

Ainda em 1908 foi aprovada proposta do Cap Ticiano Daemon para a criação, no seio do Clube Militar, de uma instituição denominada “Assistência Militar”, cujo fim era dar à família de todo associado falecido a quantia de um conto de réis, em troca de uma mensalidade de três mil réis.

Em 1909, com o falecimento do Presidente Afonso Pena, assumiu o governo o Vice-Presidente, Nilo Peçanha, que governaria até o final do mandato, em 1910. Assim ensina Pedro Calmon, na sua “História da Civilização Brasileira”:

“O candidato oficial à sucessão foi o Marechal Hermes, apoiado pela maioria política e pelas Forças Armadas. O candidato de oposição, ‘civilista’, foi Rui Barbosa. Memorável campanha eleitoral agitou o país. Eleito o marechal, o seu quadriênio foi atribulado, não raro trágico, não somente pelas desordens frequentes, como pela ‘derrubada’, que se operou nos Estados, com a imposição de governadores do agrado de Pinheiro Machado, então supremo árbitro da situação.”

Hermes assumiu o governo em 15 de novembro de 1910, e, uma semana depois, eclodiu uma revolta levada a efeito por marinheiros, que se apossaram dos principais navios da esquadra, tendo como um dos cabeças o marinheiro João Cândido. Essa revolta, conhecida como “Revolta da Chibata”, acabou mediante uma anistia concedida pelo Congresso. Pouco tempo depois, ocorreu a revolta do Batalhão Naval, aquartelado na Ilha das Cobras, que também foi debelada.

Em ambos os casos, o Clube Militar esteve ao lado da legalidade, o que lhe rendeu expressivo agradecimento do Clube Naval.

Apesar do ambiente político tumultuado, no ano de 1910 surgiram alguns eventos de relevo, como o início do trabalho de habilitação de viúvas de militares ao montepio e meio soldo, o reconhecimento da condição de sócios em trânsito aos adidos militares estrangeiros e o destino a dar aos salões, quartos, bar e ao pavimento térreo da nova sede em construção, que seria inaugurada no dia 14 de julho daquele ano, com a presença do Presidente da República – ainda Nilo Peçanha -, ministros de Estado e altas autoridades.

Primeira Sede

1ª Sede própria do Clube Militar em 1930

Nesta época o Clube Militar era apenas usufrutuário do terreno e do edifício, que era considerado próprio nacional, por ter sido construído com recursos públicos. Somente anos mais tarde, em 1931, foi feita a doação do terreno e do edifício ao Clube, isentando-o de todos os impostos enquanto nele funcionar o Clube Militar.

Praca Marechal Floriano

Foto rara da Praça Marechal Floriano (Cinelândia).

Da esquerda para a direita: Restos da demolição do Convento da Ajuda – realizada em 1911 –, Palácio Pedro Ernesto, Theatro Municipal, Escola Nacional de Belas Artes, Biblioteca Nacional, Supremo Tribunal Federal, Clube Militar.

Em 19 de julho de 1911 foi nomeada comissão da diretoria para estudar “a questão de construção de casas para os sócios do Clube”.

Ainda nesse ano o Clube contratou “serviços profissionais de um advogado para atender gratuitamente às consultas dos sócios e seus herdeiros, sobre questões relativas a soldo, patentes, reformas, processos de exercícios findos, direito ao montepio, meio soldo e pensões pagas pelo governo; sobre recebimento de pecúlio ou pensão instituídos na Assistência e Montepio do Clube”.

1911

Rio Branco

Em 15 de outubro de 1911 o Clube Militar promoveu significativa homenagem ao Barão do Rio Branco, José Maria da Silva Paranhos Júnior, ilustre brasileiro a quem a Pátria devia a solução pacífica de quase todas as questões de limites com países vizinhos, em longa vida de dedicação ao serviço diplomático, tanto no Império quanto na República.

Rio Branco agradece a homenagem – 15 Out 1911

Estavam presentes à sessão o Presidente da República, Marechal Hermes da Fonseca, que presidiu a cerimônia, além de seus ministros da Guerra e da Marinha. A homenagem incluiu a inauguração de retrato do Barão, de corpo inteiro, óleo do artista italiano Carlos de Cervi; no pé do retrato, a legenda: “À magna figura de Rio Branco, o Exército Nacional”.

Rio Branco

Rio Branco, por Carlos de Cervi

O insigne conterrâneo foi saudado, em vibrante discurso, pelo Barão de Brito Machado.

Em seu agradecimento, o ex-Chanceler teceu importantes considerações sobre as relações entre a diplomacia e as Forças Armadas, que conhecia perfeitamente. Ao mesmo tempo, rebateu as acusações que alguns lhe faziam de ser militarista.

Foi esta uma das últimas homenagens que Rio Branco recebeu em vida, pois faleceria menos de três meses depois, em 10 de fevereiro de 1912.

Sua morte foi profundamente sentida na capital da República, resultando no adiamento dos festejos do carnaval de 1912, em virtude do luto oficial decretado.

1912

Assistência e Caixa

Depois de prolongadas discussões, no início de 1912 foi aprovado o “Regulamento da Assistência e Caixa de Empréstimos do Clube Militar”, ficando definitivamente estabelecidos os referidos serviços.

“Art 2º – A ‘Assistência’ destina-se a auxiliar, com quantias determinadas, as pessoas designadas pelos sócios no gozo dos direitos e vantagens outorgados no presente regulamento”.

“Art 3º – A ‘Caixa de Empréstimos’ tem por finalidade emprestar dinheiro da ‘Assistência’ aos seus respectivos sócios, segundo condições adiante estipuladas”.

“Art 4º – O serviço da Assistência compreende três caixas denominadas A, B e C, que garantem, respectivamente, às pessoas designadas por seus associados os benefícios de 1:200$, 5:000$ e 10:000$000.

Parágrafo único: Além de 1:200$, a caixa A dará para as despesas funerais um auxílio de 300$000“.

Ainda no ano de 1912, outras dificuldades de ordem pública atormentavam o governo do Marechal Hermes. Os fanáticos do “monge” João Maria aterrorizavam a região do Contestado, disputada pelos estados de Santa Catarina e Paraná.

Pequenas expedições militares sucediam-se, sem conseguir vencer os fanáticos. Afinal, uma divisão de 6.000 soldados, sob o comando do Cel Setembrino de Carvalho, limpou o Contestado dos bandoleiros que, por três anos, o tinham assolado.

Toda essa turbulência política repercutia no Clube. Seus associados, divididos no apoio ou não ao governo, eram demitidos, transferidos, perseguidos, anistiados, gerando grande instabilidade na arrecadação das mensalidades sociais, o que quase levou o clube à falência.

A criação da Assistência e da Caixa de Empréstimos punha em igualdade de condições os sócios da Capital Federal e os dos estados mais longínquos, em virtude da exigência de que os sócios da Assistência o fossem também do Clube.

Desta forma, o Clube passou a ter a sua vida quase que dependente da Assistência, que lhe garantia recursos financeiros e fidelizava os associados.

Em maio de 1913 o Clube publicava e remetia aos sócios de todo o país seu Boletim Nº I, com informações de interesse geral. Nele verificam-se os seguintes efetivos, relativos a 1º de maio daquele ano:

  • Sócios efetivos – 2.691
  • Sócios da Caixa A – 856
  • Sócios da Caixa B – 1.484
  • Sócios da Caixa C – 529

Em 30 de junho de 1913, o ativo e o passivo do balanço do Clube registravam o valor de 740:257$373. Já no Boletim Nº VIII, de agosto de 1915, a situação era:

  • Caixa A – 962 sócios
  • Caixa B – 1.482 sócios
  • Caixa C – 1.019 sócios

A Assistência e a Caixa Mutuária (evolução da Caixa de Empréstimos) existiriam até 1968, quando foram absorvidas pelo recém-criado Departamento de Assistência Social (DASO).

A criação do DASO não absorveu o Montepio e a Previmil, que possuíam personalidade jurídica própria. Tal fato acabou por gerar conflito entre a Previmil e o Clube, por ter aquela entidade descumprido exigências do Estatuto do Clube e se recusado a realizar assembleia para dirimir a questão.

A demanda judicial decorrente só foi solucionada em 15 de julho de 1974, tendo o Juiz da 6ª Vara julgado procedente a ação do Clube Militar, restabelecido o teor original do Estatuto da Previdência Social do Clube Militar e cancelando o registro da mesma no Registro Civil de Pessoas Jurídicas. O apelo da Previmil foi rejeitado pela justiça. No entanto, somente em 19 de maio de 1982 o Conselho de Administração do Clube aprovou a desvinculação da PREVIMIL do Clube Militar.

Em 19 de agosto de 1975 o quase secular Montepio do Clube Militar foi extinto e incorporado ao Clube, tendo sido transferidos para o DASO todos os compromissos de sócios, a realizar, bem como todas as apólices de seguro.

1915

Olavo Bilac

Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac (Rio de Janeiro, 16 de dezembro de 1865 – Rio de Janeiro, 28 de dezembro de 1918) foi grande jornalista e poeta brasileiro.

Conhecido por sua atenção à literatura infantil e, principalmente, pela participação cívica, era republicano e nacionalista; também era defensor do serviço militar obrigatório.

Bilac escreveu a letra do Hino à Bandeira e fez oposição ao governo de Floriano Peixoto. Foi membro-fundador da Academia brasileira de Letras, em 1896. Fundou ainda a Liga de Defesa Nacional, em 1916, para lutar pela preservação de nossos valores maiores ao longo do tempo.

Em 1915 e 1916 liderou o movimento em prol do Serviço Militar Obrigatório, já matéria de lei desde 1907, mas apenas discutido em 1915. Bilac se desdobrou para convencer os jovens a se alistar, empreendendo peregrinação pelo País, conscientizando os brasileiros da necessidade do Serviço Militar Obrigatório, pregando a verdadeira cidadania. Sua missão, iniciada em São Paulo, e ressonante no Rio de Janeiro, tornou-se alvo de destacada homenagem no Clube Militar. Prosseguiu rumo a Minas Gerais e ao Rio Grande do Sul, defendendo, com ardor, a associação de todos os brasileiros à sua causa.

Olavo Bilac – Patrono do Serviço Militar

Na data de seu nascimento, 16 de dezembro, comemora-se o Dia do Reservista.

Quando Bilac engajou-se na campanha do Serviço Militar, descortinou-se a dimensão maior de sua personalidade, centrada em profundo patriotismo e dedicação ao Brasil. Orador fecundo, enfático e inspirado, faria, mais tarde, ecoar por todos os recantos do Brasil, o seu protesto veemente ao divórcio dos meios civil e militar. Chegava a inflamar-se ao contestar as acusações de militarismo, que muitos, em sua época, atribuíam às medidas adotadas para o aperfeiçoamento do Serviço Militar.

1921

Ruy Barbosa

Ruy Barbosa de Oliveira (Salvador, 5 de novembro de 1849 – Petrópolis, 1 de março de 1923) foi ilustre jurista, político, diplomata, ecritor, filólogo, tradutor e orador brasileiro. 

Um dos intelectuais mais brilhantes do seu tempo, foi um dos organizadores da República e coautor da constituição da Primeira República, juntamente com Prudente de Morais. Ruy Barbosa atuou na defesa do federalismo, do abolicioismo e na promoção dos direitos e garantias individuais. Destacou-se, também, como jornalista e advogado.

Foi deputado, senador, ministro. Em duas ocasiões, foi candidato à Presidência da República. Empreendeu a Campanha Civilista contra a candidatura de Hermes da Fonseca. Notável orador e estudioso da língua portuguesa, foi membro fundador da Academia brasileira de Letra, sendo seu presidente entre 1908 e 1919.

Ruy Barbosa

Ruy Barbosa de Oliveira

Como delegado do Brasil na II Conferência da Paz, em Haia (1907), notabilizou-se pela defesa do princípio da igualdade dos Estados. Sua atuação nessa conferência lhe rendeu o apelido de “O Águia de Haia”. Teve papel decisivo na entrada do Brasil na Primeira Guerra Mundial. Já no final de sua vida, foi indicado para ser juiz da Corte Internacional de Haia, um cargo de enorme prestígio, que recusou.

Em diversas ocasiões deixou clara sua estima pelos militares. Quando estudante de Direito em São Paulo, soudou de improviso, da sacada da Feculdade, tropas brasileiras que regressavam da Guerra da Tríplice Aliança. Sua oração foi tão brilhante e entusiasmada que provocou lágrimas e prolongada ovação por parte de todos os que a ouviram.

Participou pessoalmente das reuniões para a fundação do Clube Militar, tendo visitado Deodoro às vésperas da assembleia fundadora do Clube.

Lutou denodadamente pela Abolição e pela República, tendo, novamente, visitado Deodoro na semana da Proclamação. Integrou o primeiro governo da nova República, como Ministro da Fazenda.

Derrotado por Hermes da Fonseca na campanha eleitoral para Presidente da República de 1910, manteve as boas relações com o meio militar. Em 1921 Hermes da Fonseca foi eleito Presidente do Clube Militar. Rui Barbosa compareceu à posse, pronunciando notável discurso de saudação a seu antigo rival político e dirigindo elogios a Deodoro, primeiro Presidente do Clube e seu amigo pessoal. Desse pronunciamento consta o seguinte:

“Aqui, debaixo da influência desta casa e sob a direção de seu instituidor, nasceu a redenção dos cativos e, depois, a republicanização brasileira.”

1922 1923

2º Fechamento

No ano de 1915, dois importantes acontecimentos sacudiram a vida dos brasileiros e do Clube Militar. O primeiro foi a tumultuada mudança do governo no Ceará, onde se enfrentavam os grupos ligados a Pinheiro Machado e à oposição. Na Assembleia Legislativa, dividida, a minoria apoiava o Cel Franco Rabelo, enquanto a maioria, amparada por um habeas corpus da Justiça da União, depôs Franco Rabelo e entregou a chefia do governo ao Dr. Floro Bartolomeu, porta-voz do famoso Padre Cícero. Aliado a Pinheiro Machado, Floro Bartolomeu partiu para a luta armada, derrotando as forças de Rabelo e chegando às portas de Fortaleza. O governo federal interveio, evitando a luta em Fortaleza e nomeando interventor no Estado o Cel Setembrino de Carvalho.

Um grupo de vinte e oito oficiais da guarnição de Fortaleza enviou telegrama ao Clube Militar, solicitando “a intervenção do Clube em favor desta guarnição, forçada a uma atitude que julgamos incompatível com a dignidade militar, diante da possibilidade da próxima invasão da cidade pela horda assassina de jagunços”. As assembleias realizadas no Clube em 1, 3, 4 e 5 de março não chegam a um acordo, estando os sócios divididos. Assembleia decisiva, convocada para 7 de março, é suspensa por ter o governo federal decretado estado de sítio em 5 daquele mês.

O segundo acontecimento foi o início da 1ª Grande Guerra, que teria repercussões de âmbito mundial.

Ainda nesse ano, destacam-se o apoio do Clube à “Liga Brasileira contra o Analfabetismo”, por meio de doação de livros didáticos e a entusiástica acolhida a Olavo Bilac, que percorria o país divulgando a campanha pelo Serviço Militar Obrigatório.

O número de sócios do Clube atingiu 2.941 oficiais.

Em 1916 foi criada a alfaiataria do Clube Militar.

Bilac, Pedro Lessa e Miguel Calmon criam a Liga de Defesa Nacional e, em dezembro, é realizado o primeiro sorteio militar no país, cumprindo-se, assim, o decreto de oito anos antes, que instituíra o Serviço Militar Obrigatório.

Em 26 de outubro, o Brasil declarou guerra à Alemanha, em resposta ao torpedeamento de cinco navios mercantes brasileiros: Paraná, Lapa, Tijuca, Macaú e Acari. Dois meses depois o país enviaria à Europa uma esquadra de seis navios, sob o comando do Almirante Pedro Max Fernando Frontin, que operou no Mediterrâneo, além de um corpo de aviadores e de uma missão médica.

Em 11 de novembro de 1918 foi assinado o armistício entre a Alemanha e as nações aliadas, entre elas o Brasil.

Em janeiro de 1919 faleceu o Presidente da República, Rodrigues Alves. O Vice-Presidente, Delfim Moreira, completou o período de governo até a posse de Epitácio Pessoa, com mandato até novembro de 1922.

Foi durante a interinidade de Delfim Moreira que o Brasil contratou com a França uma missão militar para o desenvolvimento da instrução do nosso Exército, missão que foi chefiada pelo General Gamelin.

O governo de Epitácio Pessoa nomeou civis para as pastas militares, o que, inicialmente, contrariou os militares. O novo Ministro da Guerra, Dr. João Pandiá Calógeras, teve que, aos poucos, ir-se firmando.

Durante o mês de agosto de 1920 começaram as discussões das bases do projeto do Montepio em tramitação no Congresso Nacional.

Em 5 de outubro os alunos da Escola Militar pediram o concurso do Clube para a construção de um monumento aos heróis de Laguna e Dourados, a ser erigido na Praia Vermelha. O Clube contribuiu com 100 mil réis para aquele fim.

Em 17 de novembro a Diretoria homenageou o Ten Guilherme Paraense, que regressou da Olimpíada de Antuérpia com a primeira medalha olímpica de ouro conquistada por um brasileiro, em provas de tiro de pistola.

O agitado ano de 1921 começou com a sanção presidencial à resolução legislativa referente à criação do “Orfanato Osório”, antiga aspiração do Clube.

Em 26 de maio foi eleita nova diretoria, presidida pelo Marechal Hermes da Fonseca, em sessão em que Rui Barbosa pronunciou eloquente discurso, com expressivos elogios ao fundador do Clube, Deodoro.

Por essa época, ainda faltando dois anos para o final do governo de Epitácio Pessoa, começavam a agitar-se os políticos, como era hábito, em torno da escolha do futuro Presidente. O nome do Dr. Artur Bernardes, então presidente de Minas Gerais, foi logo aceito como num acordo preexistente, salvo pelo presidente e chefe político do Rio Grande do Sul, Borges de Medeiros, que julgava imprescindível conhecer previamente o programa de governo do candidato. Epitácio Pessoa, convicto de que o Presidente da República não devia interferir na escolha de seu sucessor, aceitou a indicação do político mineiro, feita ainda em meio de seu governo.

A paz política ficou gravemente perturbada. Os políticos dissidentes, aos quais aderiram os dois candidatos à Vice-Presidência, reuniram-se numa frente política denominada “Reação Republicana”.

O Marechal Hermes da Fonseca, que retornara ao país em junho de 1921, após período em que viveu na Europa, aceitou apenas a presidência do Clube Militar, apesar da pressão dos que pretendiam recorrer ao prestígio da farda, com o apoio do chefe militar da mais alta hierarquia, como força política no processo eleitoral.

Hermes Rodrigues Da Fonseca

Marechal Hermes Rodrigues da Fonseca

É preciso considerar a fragilidade que ainda caracterizava a estrutura político-administrativa da Nação, adotada, com a implantação da República, sem que ainda houvesse uma consciência nacional sobre o assunto. As decisões e iniciativas partiam de grupos e dividiam os políticos, os militares e o Clube Militar.

O poderoso jornalista Edmundo Bittencourt, proprietário do “Correio da Manhã”, jornalista temido e acostumado a ser obedecido, contratou um falsário para escrever uma carta, com a assinatura do mineiro Artur Bernardes, na qual atacava o Exército de forma grosseira. Tudo isso fazia parte da campanha que Bittencourt conduzia contra o candidato mineiro.

Embora Bernardes repudiasse veementemente a carta falsa, o Senador Raul Soares, líder de sua candidatura e destinatário da carta fatídica, houve por bem investigar e esclarecer o assunto.

O Clube Militar, por seu lado, encomendou uma análise pericial da carta, a qual concluiu que a mesma era autêntica.

A falsa carta de Artur Bernardes. Autenticada por peritos, foi o estopim da crise que levaria ao 2º fechamento do Clube Militar, em 1922.

Laudos diferentes e contraditórios, protesto de sócios, ataques e defesas pelos jornais, publicação e distribuição de 5.000 exemplares do laudo e da moção enviada ao Presidente da República. Apesar dos desmentidos e da prisão do falsário e de seu mandante, a grande maioria dos associados do Clube continuou acreditando na validade do laudo.

Em março de 1922, Artur Bernardes foi eleito e o Congresso, cuja maioria era simpática à sua eleição, homologou o resultado, apesar de sérias dúvidas apontadas sobre os critérios das juntas apuradoras.

O Clube Militar enviou ofício ao presidente do Senado Federal, sugerindo a criação de um Tribunal de Honra, para decidir, de forma irrecorrível, sobre a lisura das eleições. Naturalmente, a proposta não foi aceita pelo Congresso Nacional nem por Artur Bernardes. Deste modo, rompia-se a última esperança de concórdia entre o futuro comandante-chefe das Forças Armadas e a grande maioria da oficialidade que devia comandar, sobretudo na capital federal.

O Presidente Epitácio Pessoa, ainda no governo, adotou um programa de transferências em massa dos oficiais declaradamente antipáticos a Artur Bernardes, enviando-os para as guarnições mais remotas do país.

Em 28 de junho, oficiais da guarnição de Recife enviaram ao Clube Militar um protesto, expondo a situação ali existente. Hermes da Fonseca respondeu com um telegrama, o que foi considerado, pelo Presidente Epitácio Pessoa, grave indisciplina, uma censura implícita às suas ordens de chefe constitucional das Forças Armadas. Em consequência, mandou repreender Hermes por escrito, em 30 de junho. No mesmo dia a Diretoria do Clube militar publicava, na imprensa carioca, uma declaração coletiva de solidariedade ao seu presidente, considerando-se igualmente responsável pelo telegrama enviado ao comandante das forças federais em Pernambuco.

Revidando a essa solidarização, o Presidente da República emitiu o Decreto nº 15543, de 1º de julho de 1922, mandando fechar, por seis meses, o Clube Militar, baseando-se no dispositivo legal que lhe facultava interditar, em defesa da moral pública, casas de lenocínio e de tavolagem.

O Marechal Hermes recusou-se a receber a repreensão que lhe fora imposta na véspera. Foi, então, recolhido preso ao quartel do 3º Regimento de Infantaria, comandado por um coronel. Avisado da impropriedade de prender um Marechal do Exército e ex-Presidente da República em um quartel de regimento, Epitácio mandou transferi-lo, preso, para o Palace Hotel, ao anoitecer do dia 2 de julho. No dia seguinte, ao meio dia, foi solto.

Ainda em consequência da prisão de Hermes e do desagrado que a mesma causou em parte da guarnição da capital, na madrugada de 5 de julho revoltou-se o Forte de Copacabana, então comandado pelo Capitão Euclides Hermes da Fonseca, filho do Marechal.

A ele aderiram o Forte do Vigia e a Escola Militar da Praia Vermelha, cujos alunos, em número de 558, marcharam para a Vila Militar sob o comando do Coronel José Maria Xavier de Brito Júnior. Julgavam os moços estudantes que as tropas da Vila Militar fariam causa comum com eles, mas foram batidos pelas mesmas e obrigados a capitular. Hermes da Fonseca foi novamente preso.

Os revoltosos do Forte de Copacabana, desiludidos e isolados, abandonaram-no, e apenas 18 deles, sob a direção do Tenente Siqueira Campos, foram atacar as forças legais na praia, encontrando quase todos a morte na luta que aí se travou.

A revolta teve reflexos nas tropas aquarteladas no Mato Grosso, sob o comando do General Clodoaldo da Fonseca, primo do Marechal Hermes, mas o fracasso do movimento no Rio de Janeiro acabou por esvaziar a tentativa no interior do país.

Decretou então o governo, em 5 de julho de 1922, o estado de sítio, que foi sucessivamente prorrogado, permanecendo em vigor até 23 de dezembro de 1923.

1926

A Revista do Clube

Na assembleia de fundação do Clube Militar, em 26 de junho de 1887, o Almirante Arthur Silveira Mattos – Barão de Jaceguai, pediu que constasse nos Estatutos da novel associação a previsão de uma revista, que deveria “propugnar pelos interesses da classe”, dentre os quais destacava as “ordenanças para o Exército e a Armada; a necessidade da abolição dos castigos corporais (penas de açoite) na Armada Nacional e outros assuntos…”

O período histórico tumultuado, a libertação dos escravos, a proclamação da República, os choques internos dos primeiros anos do novo regime, o papel preponderante dos militares na vida política e partidária do país, o esforço pela construção da sede própria, os fechamentos do Clube Militar, tudo conspirou para que essa aspiração fosse postergada.

Somente em 15 de novembro de 1926, 39 anos após a criação do Clube Militar, sob a presidência do General João de Deus Mena Barreto, foi lançado o primeiro número da Revista do Clube Militar.

Revista Clube Militar

Capa da 1ª edição da Revista do Clube Militar

Em suas “Palavras Iniciais” lemos:

“Com o intuito de realizar uma justa aspiração, há longos anos afagada pelo Clube Militar, vem hoje a lume esta despretensiosa Revista…”.

Órgão de uma associação de classe, identificada com os grandes ideais de nossa evolução social, esta Revista oferecerá um campo vasto de ação profícua em todos os assuntos de real valor para a coletividade armada…

O interesse que a deve animar não difere essencialmente do colimado pela massa geral da nação. O mesmo amor pela Pátria, o mesmo anelo de sua prosperidade mental, econômica, moral e política, devem palpitar com isocronismo em todos os corações”.

Com periodicidade variável, a circulação da revista só foi interrompida duas vezes.

A primeira, em 1950, quando deixou de circular por seis meses, por decisão de assembleia geral de 560 sócios, após intensas críticas por ter publicado matéria controversa e não assinada sobre a Guerra da Coreia, na qual eram atacadas a ação da ONU naquele país e a posição do governo brasileiro. Voltou a circular em março de 1951, somente com artigos assinados; Na época, confrontavam-se dois grupos de sócios, um formado por comunistas e simpatizantes, e outro composto por defensores da democracia, que foi denominado “Cruzada Democrática”.

A segunda, em 1964, “em virtude dos altos custos do papel de impressão”. Deixou de ser publicada por cinco anos. No mesmo período circulou, como órgão de divulgação, a publicação “Notícias do Clube Militar”, de confecção mais simples e econômica.

A Revista voltaria a circular em 26 de junho de 1969, com o lançamento de sua edição nº 165.

Em sua longa existência, a Revista cobriu os mais variados temas, desde assuntos militares, fatos e personagens históricos, passando por tópicos de grande interesse nacional, como petróleo, materiais nucleares, transporte, energia, comunicações, hidrovias, ferrovias, educação, geopolítica, Amazônia, Pantanal, Guerra Fria, indígenas, comunismo, democracia e muitos outros.

Ao longo dos anos, a Revista do Clube Militar criou justa reputação de qualidade e de seriedade, sendo um dos veículos de maior influência e penetração de que o Clube dispõe, não somente junto a seus sócios em todo o país, mas, também, à população em geral.

1932

Bandeira e Escudo

Em 15 de julho de 1932, a convite da Diretoria, o Dr. Francisco Pereira Lessa, especialista em heráldica, aceitou a incumbência de realizar os projetos da bandeira e do escudo do Clube. Em 19 de dezembro o Dr. Pereira Lessa apresentou a proposta dos referidos, onde aparecem: a descrição do escudo e sua justificação (cores, Cruzeiro do Sul, a esfera armilar, a Grã-Cruz de Avis, o timbre, os paquifes e a divisa) e a descrição da bandeira.

As propostas foram aprovadas em reunião da Diretoria de 18 de Janeiro de 1933, tendo o Clube informado os autores – Drs. Francisco Pereira Lessa, Edison Nicoll e Lauro de Gusmão Pereira Lessa – e registrado em ata os agradecimentos por seu trabalho.

1936

Fundação do IGHMB

Em 7 de novembro de 1936, no Clube Militar, foi fundado o Instituto de Geografia e História Militar do Brasil, por proposta do Cap Severino Sombra, aprovada por grande número de associados.

A sessão foi presidida pelo Marechal Moreira Guimarães.

A primeira diretoria do IGHMB foi assim constituída:

  • Presidente – Almirante Raul Tavares;
  • Vice-presidente – General F. José Pinto;
  • 1º Secretário – Cap Severino Sombra;
  • 2º Secretário – Comandante Didio Costa;
  • 1º Tesoureiro – Comandante Feliciano Xavier;
  • 2º Tesoureiro – Cap Adailton Pirassinunga.

1939

Edifício Duque de Caxias

Em 3 de novembro de 1928, o Presidente do Clube, Gen João Gomes Ribeiro Filho, entregou ao Ministro da Guerra as bases gerais da proposta para a demolição do edifício sede do Clube e para a construção de um novo. O pedido foi dirigido ao Ministério da Guerra por se tratar o prédio de um próprio nacional.

Sabendo do interesse do Clube em construir nova sede, vários escritórios de arquitetura apresentaram suas propostas, sendo todas encaminhadas ao Ministério da Guerra.

Em 7 de setembro de 1931, após intensa luta por parte do Clube, o Dec nº 20.372, assinado por Getúlio Vargas, chefe do Governo Provisório, doou definitivamente ao Clube militar o terreno e o edifício da esquina da Avenida Rio Branco com a Rua Santa Luzia, isentando-os de todos os impostos enquanto neles funcionar essa associação.

Em 3 de janeiro de 1933, o Dr. Pedro Ernesto, Interventor Federal no Distrito Federal, pelo Decreto nº 4.124, concedeu, por aforamento, à Assistência do Clube Militar, um lote de terreno na Esplanada do Castelo para construção da respectiva sede social.

Em 1934, a doação do terreno passa a ser feita ao Clube Militar, e não mais à Assistência (Dec nº 4.669, de 26 de fevereiro de 1934).

Em 24 de fevereiro de 1939 foi lançada a pedra fundamental do prédio da Esplanada do Castelo, que recebeu o nome de “Marechal Deodoro da Fonseca”, e cuja construção foi concluída em junho de 1940. A construção foi financiada por empréstimo da Caixa Econômica Federal de “até quatro mil contos”, com pagamento em quinze anos.

Neste mesmo ano de 1940, o Clube foi declarado “de utilidade pública” por decreto presidencial.

Em dezembro, o Clube mudou sua sede social para o novo edifício – onde foi criado o “Círculo de Xadrez” – para que sua sede antiga, na Cinelândia, fosse demolida e desse lugar a novo edifício, cuja pedra fundamental foi lançada em 29 de agosto de 1941, com a presença do Presidente da República. No interior da pedra foi lacrada urna de cimento contendo a ata do lançamento, bem como documentos relativos à antiga sede, já demolida, jornais e revistas do dia e moedas cunhadas no último decênio.

A nova sede foi inaugurada em 25 de agosto de 1945, com o nome de “Edifício Marechal Duque de Caxias”. À época, o Clube congregava 15.000 sócios e dependentes.

O financiamento da obra foi feito pelo Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Industriários (IAPI), no valor de Cr$ 9.000.000,00, amortizados em 40 prestações semestrais. O prédio ficou hipotecado ao IAPI até 23 de agosto de 1965, quando foram canceladas as duas hipotecas que o gravavam.

Não é difícil imaginar as grandes dificuldades que o Clube enfrentou na construção dos dois prédios, no ambiente conturbado do Estado Novo e da eclosão da 2ª Guerra Mundial, na qual o Brasil viria a mergulhar em 1942.

Em função disso, o Clube pensou várias vezes em vender o Edifício Marechal Deodoro, inicialmente para o Ministério de Educação e Saúde, depois para a Prefeitura do Distrito Federal. A Diretoria, autorizada em Assembleia Geral, realizou intensas negociações, mas não houve acordo entre os interessados.

Finalmente, em 1951, extenso trabalho encomendado pela Diretoria a uma comissão especial desaconselhou em definitivo a venda do imóvel.

Ainda nessa época de tão grandes atividades, o Clube admitiu, em 1943, pela primeira vez, uma mulher no seu quadro de funcionários: Lucy Basalo Caribe, que trabalhou como Auxiliar de Bibliotecário, Subchefe e Chefe da Biblioteca.

1940

Sede Lagoa

Em 1940, o Prefeito do Distrito Federal, Dr. Henrique Dodsworth, aforou ao Clube Militar os “alagadiços da Rua Jardim Botânico.” No local o Clube pretendia construir seu parque esportivo, com “piscinas, foot-ball, volley, esgrima, enfim todos os esportes, e mais uma sede com restaurante, salões de jogos, de leitura e de baile”.

Em novembro do mesmo ano, o Clube destinou 30:000$000 de seu saldo orçamentário para aterro, drenagem e aforamento do terreno. O nivelamento do terreno foi completado em maio de 1942.

Em 3 de julho, o Ministro da Guerra, Gen Eurico Gaspar Dutra, autorizou o Conselho Superior de Economias da Guerra a emprestar 300:000$000 ao Clube Militar, para início das obras do Campo de Esportes. O empréstimo seria pago em prestações mensais de 5:000$000.

Em abril de 1954, a CHI pôs à disposição do Clube três casas (as “casas da Gávea”, originalmente construídas pela Light) para instalação de hotel de férias, o que não foi aceito pela necessidade de despesa elevada para reformá-las. Neste mesmo ano, iniciou-se a construção de um Hotel de Trânsito do Clube Militar, na Lagoa, com um investimento inicial de Cr$ 50.000.000,00, dos quais 30 milhões adiantados pela CHI.

Em 13 de janeiro de 1959 foram recebidos da Sondotécnica Engenharia de Solos S.A. os documentos e o relatório da sondagem do terreno da Lagoa.

Em 6 de novembro de 1959 foi lançada a pedra fundamental, sendo o terreno lançado no patrimônio do Clube, com o valor de Cr$ 110.000.000,00.

Em janeiro de 1961 aprovaram-se os projetos da rede telefônica da sede da Gávea e, em Dezembro do mesmo ano, conferidos o estaqueamento do edifício do Hotel de Trânsito.

Em 27 de outubro de 1963, o Estatuto do Clube foi modificado em Assembleia Parcial Extraordinária. Entre outras medidas, criou-se a categoria de “Sócio Remido Voluntário”, com a finalidade de levantar recursos para a conclusão das obras da Sede Esportiva.

Mesmo assim, o prosseguimento das obras foi custoso, em virtude da escassez de recursos, não obstante o auxílio da CHI na construção. As obras chegaram a ser suspensas em algumas oportunidades.

Entre fevereiro e junho de 1965, em consequência de entendimentos com o Comando do I Exército, o 1º Batalhão de Engenharia de Combate realizou importantes serviços de terraplanagem, imprescindíveis para o prosseguimento das obras.

Em 1966, um convênio com o Ministério da Educação resultou na construção de três quadras de tênis e uma de basquetebol e voleibol, além de um parque infantil completo. Na mesma época, convênio com o Ministério da Guerra permitiu a construção de mais 18 apartamentos no Hotel, no 3º piso.

Em 15 de dezembro de 1967 foi inaugurado o conjunto de piscinas da Sede Desportiva e, um ano após, o Pavilhão de Hóspedes e o Restaurante.

Em 01 de março de 1971 deu-se início “a construção de um segundo bloco de apartamentos para o hotel, com mais 42 apartamentos”.

Em 11 de junho de 1972 foi inaugurado o edifício anexo ao Ginásio Mário Márcio, com três pavimentos.

No dia 21 de março de 1974, o Governo do Estado da Guanabara cedeu “ad perpetuam”, em comodato, a área de 2450 m², na Rua Jardim Botânico nº 395. Esta foi a solução encontrada para legalizar a posse do terreno situado entre o Clube Militar e a Sociedade Hípica, há vários anos ocupada pelo primeiro. No mesmo ano, em 30 de novembro, foi inaugurada a nova piscina, o bar e a nova fachada do Ginásio Mário Márcio.

Em 13 de novembro de 1975 o Depatamento do Patrimônio Imobiliário do Estado declarou a “prévia e expressa autorização” daquele Departamento para a construção, pelo Clube, “de um edifício e instalações para práticas desportivas no próprio estadual situado nesta cidade, à rua Jardim Botânico nº 395”, conforme plantas apresentadas pelo Clube Militar.

Em 7 de abril de 1976, o MEC concedeu ao Clube Militar auxílio financeiro no valor de um milhão de cruzeiros, para serem utilizados na construção das novas instalações desportivas, com o compromisso de que as mesmas sejam utilizadas pelo MEC e escolas da área.

Com relação ao Hotel, em junho de 1976 foi estabelecida a norma de que “durante os meses de julho, dezembro, janeiro e fevereiro, a hospedagem será prioritariamente reservada aos sócios do interior que residam fora da área metropolitana do Rio de Janeiro”.

Em 3 de setembro de 1977 foi realizada a Festa da Cumeeira do novo ginásio de esportes, inaugurado em 27 de maio de 1978.

1941

Ministério da Aeronáutica

A respeito da criação do Ministério da Aeronáutica, o Marechal do Ar Nelson Freire Lavanère Wanderley, na sua “História da Força Aérea Brasileira”, declara…

“É interessante assinalar que a primeira manifestação na imprensa, em 1935, a favor da criação do Ministério do Ar partiu de um oficial do Exército, da arma de Engenharia, o Cap Aurélio de Lyra Tavares; durante os anos de 1933, 1934 e 1935, o Cap Lyra Tavares escreveu, com grande autoridade e bom senso, no Jornal do Rio de Janeiro, artigos militares sob o pseudônimo de ‘Observador Militar’”.

A 20 de janeiro de 1941 foi criado o Ministério da Aeronáutica.

Uma das decorrências para o Clube Militar foi a de aceitar em seu quadro social os oficiais e aspirantes a oficial das “Forças Aéreas Nacionais”, com a necessária alteração dos Estatutos, em 26 de março de 1941.

1944

II GM – FEB

Em julho de 1944, quando do desembarque do primeiro escalão das tropas da 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária em Nápoles, o Clube Militar enviou vibrante mensagem de saudação ao General João Baptista Mascarenhas de Moraes, comandante brasileiro, da qual destacamos…

“As tropas nacionais, integradas por valorosos soldados e competentes oficiais, dotados de sólida instrução profissional, desempenharão, nas lutas em que intervierem, as mais destacadas ações, na defesa da honra da nossa querida Pátria”.

Joao Baptista Mascarenhas

General João Baptista Mascarenhas de Moraes

Comandante da Força Expedicionária Brasileira

Em maio de 1945, o Clube remeteu telegrama ao Comandante da FEB cumprimentando pela façanha de aprisionar a 148ª Divisão de Infantaria nazista.

Ao término da guerra na Europa, o Comandante da FEB, em mensagem ao Clube Militar, agradeceu seu apoio às tropas brasileiras em operações.

O Clube organizou, ainda em maio de 1945, uma “Comissão de Homenagem, Assistência e Recepção à FEB”.

Em 8 de novembro, tendo em vista determinação do Ministério da Guerra dando por terminadas as homenagens à FEB, o Clube encerrou a Campanha Cívica que organizara para recepcionar e homenagear nossos bravos expedicionários.

Antes disso, uma série de quatro conferências foram realizadas para marcar a atuação brasileira na Itália:

– a primeira, em 25 de junho, pelo Coronel Floriano de Lima Brayner, Chefe do Estado-Maior da Divisão Expedicionária, com o título “Operações da FEB particularmente na última primavera”;

– a segunda, em 14 de julho, pelo Almirante Ary Parreiras, intitulada “A Marinha de Guerra no combate aos corsários e na proteção dos comboios”;

– a terceira, 21 de julho, pelo Brigadeiro Gervásio Duncan, tratou do tema: “A ação da FAB na campanha submarina dos corsários e na frente italiana”;

– a quarta, também na segunda quinzena de julho, pelo Cel Dr. Marques Porto, versando sobre “A preparação do Serviço de Saúde da FEB e sua atuação em campanha”.

Além disso, o General Mascarenhas de Moraes foi aclamado Presidente de Honra do Clube Militar.

Em 15 de dezembro de 1945, o Clube promoveu uma recepção de gala, que constou da inauguração, no saguão de entrada, de uma grande placa de bronze representativa do roteiro da FEB e da entrega, ao Gen Mascarenhas de Moraes, de um pergaminho concedendo-lhe o título de Presidente de Honra da entidade.

Placa De Bronze

Placa de bronze homenageando a FEB, no Saguão da Sede Central

Em 17 de setembro de 1968 faleceu o insigne chefe militar, que foi velado em câmara ardente no Monumento aos Mortos da Segunda Guerra Mundial, com a presença da Diretoria do Clube Militar, que guardou luto oficial por três dias.

1947

Curso de Preparação ECEME

O Curso de Preparação ao Concurso de Admissão à Escola de Estado-Maior – CPCAEEM – foi criado em 14 de abril de 1947. Não tinha caráter oficial nem militar, como é óbvio, e exigia de seus alunos, como até hoje, o sacrifício de horas de repouso ou lazer para o estudo visando ao concurso. Os instrutores do Curso, oficiais e civis voluntários, confeccionavam notas mimeografadas sobre os assuntos em estudo, que eram distribuídas aos alunos da capital ou enviadas pelo correio para os alunos de outras localidades.

Nesse primeiro curso foram matriculados 193 oficiais do Distrito Federal e 67 de outras guarnições. Realizaram o concurso 77 alunos, sendo aprovados 48, obtendo-se um aproveitamento de 62,3%.

Note-se que, à época, a EEM não oferecia um curso de preparação aos candidatos ao concurso de admissão, o que dificultava muito a preparação dos oficiais, principalmente dos que serviam fora do Rio de Janeiro. Somente em 1965 a ECEME criaria seu Curso de Preparação, quando o Clube Militar realizava a 19ª edição de seu CPREP.

Atualmente, nosso CPREP ECEME funciona totalmente integrado ao da escola de mais alto nível do Exército, complementando o trabalho da mesma. A maior parte do Curso é oferecida pela Internet, havendo também atividades presenciais.

O Clube manteve ainda, nessa época, por vários anos, um Curso de Preparação para a Escola Técnica do Exército (atual IME) e para a Escola Preparatória de Cadetes, além de cursos esporádicos de Inglês, Português, Matemática e Taquigrafia para seus associados.

1947

Salão de Belas Artes

Em 11 de janeiro de 1947 teve lugar a inauguração do 1º Salão de Belas Artes do Clube Militar, que contou com a exposição de 500 trabalhos de pintura a óleo, aquarela, desenho e escultura. Uma parte do Salão constava de trabalhos homenageando a Força Expedicionária Brasileira.

A partir de então, o Salão de Artes Plásticas vem sendo realizado anualmente, estando, neste ano de 2015, em sua 62ª edição. Isso transforma essa nobre atividade cultural e social no mais antigo salão de artes existente no Rio de Janeiro, com sua qualidade e reputação amplamente estabelecidas no meio artístico nacional.

Ainda no que se refere ao apoio às artes plásticas, o Clube conta com um “Espaço Cultural”, localizado na Sala Carmela Dutra, com a finalidade de abrigar exposições temporárias, individuais e coletivas, lançamento de livros e eventos de qualquer natureza de expressão cultural.

Para expor no Espaço Cultural/Sala Carmela Dutra não é necessário ser sócio do Clube Militar.

1948

Carteira Hipotecária e Imobiliária

Era antiga a aspiração do Clube de criar algum órgão que facilitasse a aquisição de casa própria por parte dos sócios. Em diversas oportunidades o assunto veio à baila, em assembleias e reuniões de Diretoria, mas a situação financeira do Clube ou as dificuldades políticas enfrentadas pela Nação na época não permitiram que o assunto prosperasse.

Quando da construção do Edifício Marechal Deodoro e da Sede Esportiva, várias vezes foi discutida a ideia de construir nesses locais imóveis que seriam vendidos aos sócios. Era evidente, porém, que a quantidade de imóveis seria totalmente insuficiente para satisfazer a demanda.

Em 9 de julho de 1948, um grupo de 180 sócios apresentou ao Clube a sugestão da criação de uma Carteira Hipotecária.

Os estudos e discussões progrediram e, em 29 de setembro de 1948, uma Assembleia Geral Extraordinária aprovou a criação da Carteira Hipotecária e Imobiliária – CHI.

Os trabalhos iniciais de organização da Carteira contaram com a assessoria valiosa de dois especialistas civis, o urbanista Dr. Hélio Uchoa e o economista Dr. Plínio Catanhede.

Em 19 de abril de 1950 o Presidente Dutra sancionou a Lei nº 1086, da mesma data, que autorizava o Poder Executivo a financiar as operações imobiliárias que o Clube Militar realizasse com os oficiais associados da Carteira Hipotecária e Imobiliária.

O Senado Federal já autorizara, em 1949, o Ministério da Fazenda a suprir a CHI com a importância anual de 100 milhões de cruzeiros, de 1950 a 1955, para financiamento de seus projetos imobiliários.

A demanda pelos financiamentos era grande: em 1950 já havia 4.600 associados à CHI, que já ocupava o 2º andar do Edifício Marechal Deodoro.

Após as medidas burocráticas necessárias, eleição da Diretoria, aprovação de Estatutos e Regulamento da CHI e seu registro em cartório, o primeiro financiamento foi concedido em 30 de novembro de 1950, sendo beneficiado o Tenente Coronel José Duval de Figueiredo, que recebeu financiamento de Cr$ 350.000,00, para aquisição de imóvel sito à Rua dos Araújos, 81 – Tijuca.

No Relatório da CHI de 1953, consta que a mesma contava com 8.224 sócios, dos quais 1.290 já tinham sido contemplados com empréstimos imobiliários para construção por iniciativa própria, por iniciativa da Carteira ou para sub-rogação de dívidas.

A lei 2672, de 7 de dezembro de 1955, prorrogou por mais cinco anos os empréstimos concedidos à Carteira, que passou a dispor de mais cinco dotações orçamentárias anuais de Cr$ 100.000.000,00, até 1959.

Em janeiro de 1960, pela primeira vez, a CHI distribuiu Cr$ 100.000.000,00 de recursos próprios para financiamento de aquisição de imóveis pelos sócios. Nesse ano, foram financiados 564 imóveis.

O Clube atinge 22.661 sócios efetivos (dos quais 11.000 sócios da CHI), 482 remidos e 133 assemelhados.

O Decreto 306/61 alterou o Regulamento das Operações Imobiliárias da CHI.

O Projeto 4913/1963, da Câmara de Deputados, restabelece a vigência, por mais dez anos, a contar do exercício de 1962, do crédito especial repassado pelo Tesouro da União ao Clube Militar, para emprego exclusivo na CHI.

Em 1967, a CHI firmou dois convênios. Um, com a COPEG, para financiamento de 500 residências; outro, com o BNH, para construção e financiamento de 3.500 unidades residenciais, em todo o território nacional.

Em junho de 1968 o Diretor da CHI anunciava que, desde o início de suas atividades em 1950, a Caixa já atendera 2.722 associados com financiamentos para aquisição da casa própria.

Em 13 de agosto de 1976 o Gerente de operações da CHI apresentava uma apreciação sobre o movimento de obras da Caixa na qual consta que as obras na gestão da Lei nº 1086 – de 1953 até o início do convênio com o BNH – foram entregues 1.100 apartamentos e 21 lojas; e que as obras financiadas em convênio com o BNH somavam 2.241 unidades residenciais, além de 184 em fase de construção.

Em 24 de setembro de 1979 a CHI passou a ser considerada Agente Financeiro, por decisão do Banco Nacional de Habitação.

1959

Sede Cabo Frio

Antiga aspiração do Clube, a criação de uma Colônia de Férias começou a ganhar forma em fevereiro de 1959, com a avaliação de várias propostas de compra e venda de terrenos em Cabo Frio, Barra de São João, Araruama e Magé.

Em 8 de setembro de 1959 foi assinada, no Rio de Janeiro, a ”escritura do contrato de mediação para venda de terrenos loteados e construção de sedes, que fazem o Dr. Miguel Couto Filho e sua mulher e o Clube Militar”. Dois dias depois, no 2º Ofício de Cabo Frio, foi firmada a escritura de compra e venda do imóvel situado na Praia dos Montes Brancos, Freguesia de Nossa Senhora D’Assunção, com o preço estipulado de Cr$ 800.000,00, sem ônus para o Clube, pelo fato de a Fundação Miguel Couto de Proteção à Infância contribuir com todo o numerário, tendo em vista seu interesse em ver localizado em seu loteamento a sede praiana da Colônia de Férias do Clube Militar.

Os associados do Clube tiveram preferência na aquisição dos lotes do empreendimento.

No dia 22 de outubro de 1960 foi assinada a escritura definitiva de compra e venda do terreno de Cabo Frio.

Em 5 de julho de 61 a Diretoria aprovou alteração no projeto da Colônia de Férias, substituindo as instalações de iatismo e hipismo por uma piscina.

Em 21 de junho de 1962 foi apresentado o Termo de Exame, Recebimento e Entrega da sede praiana, em Cabo Frio, onde eram examinados tecnicamente todos os serviços concluídos e era constatado que as obras estavam de acordo com o projeto e todas as instalações, dependências e aparelhos estavam em condições de funcionamento.

Com o falecimento do Dr. Miguel Couto Filho e, pouco tempo depois, de seu filho, os problemas de espólio e a burocracia da prefeitura de Cabo Frio, a legalização da posse e a construção das redes hidráulica e de energia para atender os compradores dos lotes e o Clube Militar arrastaram-se por longos anos. Em 30 de abril de 1974 foi organizado um condomínio dos proprietários, para buscar equacionar os problemas.

Em 9 de dezembro de 1975 foi registrada, no 1º Ofício de Cabo Frio, a Sociedade Civil sem fins lucrativos ASPROL – “Associação dos Proprietários de Lotes do Loteamento Professor Miguel Couto”, com a finalidade de prestação de serviços aos associados. Em 18 de novembro de 1985 foi lançada a pedra fundamental da Sede Praiana, em Cabo Frio. A construção foi inaugurada em 8 de julho de 1987.

1961

Democracia em Perigo

No início da década de 60, elementos radicais tentaram, mais uma vez, envolver o Clube Militar na política. A indicação do Marechal Henrique Dufles Teixeira Lott, Ministro da Guerra de Kubitschek, como candidato presidencial da coligação PSD-PTB, serviu para encorajar o grupo radical, que pretendia explorar o prestígio do Clube Militar na campanha eleitoral, ao mesmo tempo em que atacava seu oponente, Jânio Quadros, a quem taxavam de “entreguista”.

Os líderes da Cruzada Democrática protestaram contra o uso dos recursos e das instalações do Clube Militar pelos radicais, e o Presidente, General Justino Alves Bastos, afirmava que o envolvimento do Clube na campanha contrariava suas instruções.

Sempre contra as instruções do presidente, os radicais decidiram enviar uma mensagem ao Presidente da República (Jânio Quadros, já eleito e empossado), em nome do Clube, elogiando-o por suas “atitudes nacionalistas”. O Gen Justino foi chamado por Jânio a Brasília, para explicar a mensagem, e aproveitou o convite para conseguir o apoio presidencial a um expurgo no Clube, que foi obtido com a transferência de muitos dos líderes radicais para guarnições distantes do Rio de Janeiro, restabelecendo-se a calma no Clube Militar.

A surpreendente renúncia de Jânio, em 25 de agosto de 1961, estando ausente o Vice-Presidente João Goulart – em visita oficial à URSS e à China –resultou na posse do Presidente da Câmara dos Deputados, Rainieri Mazzili. O país viveu, a partir daí, uma rápida sucessão de momentos dramáticos.

Os ministros militares julgaram conveniente desaconselhar o regresso imediato de Goulart ao Brasil. Em reunião no Palácio do Planalto, em 28 de agosto, manifestaram esse ponto de vista ao Presidente Mazzili, sugerindo-lhe comunicá-lo ao Poder Legislativo, o que foi feito no mesmo dia.

Goulart, em sua viagem de retorno, chegara a Paris no dia 27, e ali deveria entender-se com a Comissão Mista Parlamentar incumbida de examinar o veto dos ministros militares e o seu regresso ao país.

Por outro lado, o comandante do III Exército – com sede em Porto Alegre – General José Machado Lopes, distribuiu nota à imprensa afirmando que a corporação militar a ele subordinada saberia manter a ordem legal e a defesa das instituições.

Enquanto isso, o ex-Presidente Jânio Quadros embarcava, a 29, no porto de Santos, com destino à Inglaterra.

Os ministros militares divulgaram um manifesto à Nação, justificando o veto declarado à posse de Goulart.

Este se demorava na volta ao Brasil, permanecendo na Argentina e no Uruguai, até que se descobrisse uma saída legal para a crise político-militar, só contornada por uma Emenda Constitucional que estabeleceu, provisoriamente, o Parlamentarismo no país, diminuindo os poderes do Presidente da República.

Toda essa agitação repercutia no Clube Militar, dividido entre as correntes socialistas e a Cruzada Democrática. Esta última conquistou importante vitória ao aprovar, em Assembleia Parcial Extraordinária, em 13 de março de 1962, a votação secreta para as eleições do Clube Militar, embora para vigorar apenas após as eleições seguintes, para o biênio 1964-66. No entanto, já em 1962, foi eleita a chapa apoiada pela Cruzada Democrática, presidida pelo General Augusto da Cunha Magessi Pereira, derrotando a chapa esquerdista encabeçada pelo Gen Peri Constant Beviláqua. O General Magessi contou com o apoio dos Marechais Eurico Gaspar Dutra, Mascarenhas de Moraes, Odílio Denys e Zenóbio da Costa e dos generais Artur Costa e Silva e Amauri Kruel, conforme noticiou o jornal O Globo.

Em outubro de 1962 o Clube convidou o Presidente da República para uma recepção, com a presença de grande número de sócios, membros da sociedade local e do Corpo Diplomático, numa tentativa de reverter a triste realidade que vivia a Nação, com o governo se entregando, cada vez mais, ao sindicalismo de esquerda.

O panorama político agravou-se em 1963.

Em 3 de julho, o Presidente convocou Assembleia Geral para relatar sua viagem a Brasília, onde a proposta de aumento para os militares, defendida pelo Clube Militar, fora derrotada no Senado por dois votos de diferença. Elementos de esquerda e comunistas, infiltrados na Assembleia, tentaram tumultuá-la, sendo repelidos a braço pela grande maioria.

Em consequência da confusão criada, o Presidente do Clube foi preso por dez dias no Forte de Copacabana, unidade comandada por ilustre oficial, mas de posto de Tenente Coronel.

Cerca de cem outros oficiais foram também presos e transferidos por exigência da esquerda, cada vez mais influente no governo.

Em 12 de setembro de 1963 a crise escalou, com a revolta de praças da Aeronáutica e do Corpo de Fuzileiros Navais da guarnição de Brasília, cujo estopim foi a não diplomação de sargentos eleitos no pleito de 3 de outubro de 1962 pelos Tribunais Eleitorais e pelo fato de o Supremo Tribunal Federal ter deixado de conhecer o recurso interposto pelos eleitos.

Os rebeldes ficaram sem punição, apesar das queixas do Ministro da Marinha, o que causou protesto por parte do Clube Naval, ecoado por ação semelhante do Clube Militar.

Embora prontamente debelado, o episódio era um sinal altamente preocupante de que a subversão começava a ameaçar as bases do estamento militar.

Goulart, inconformado com a situação de Chefe de Estado, em vez de Chefe de Governo, que lhe fora imposta pela emenda do Parlamentarismo, obteve do Congresso a realização de um plebiscito, a se realizar em 6 de janeiro de 1963, para decidir se o povo brasileiro preferia o presidencialismo ou o parlamentarismo. A emenda de 1961, instituidora do parlamentarismo e que garantira a posse de Goulart, previa um plebiscito semelhante, mas só após o fim do período governamental do Presidente.

1975

Curso de Extensão Cultural da Mulher

Tendo em vista o Ano Internacional da Mulher – 1975 –o Departamento Cultural do Clube Militar organizou, de 1º de julho a 18 de dezembro, o “I Curso de Extensão Cultural da Mulher”, funcionando na Sede Esportiva. O referido curso constava de ciclo de palestras e de visitas cívicas e culturais.

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